Por Thiago Taborda Simões no Conjur

Quando afirmou que “educar a mente sem educar o coração não é educação”, Aristóteles prenunciava a obra do professor Roque Antonio Carrazza. Certamente que o grego teria ficado feliz de ver seu ensinamento materializado nas aulas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde, no último dia 23 de agosto, Roque Carrazza recebeu o título de professor emérito, a maior honraria conferida a um docente.

Mestre, doutor, livre docente e professor titular da cadeira de Direito Tributário da Faculdade de Direito, o outorgado é coroado por uma vida de entrega e dedicação à ciência do Direito e ao ensino universitário. Após uma brilhante carreira como promotor e procurador de Justiça do Estado de São Paulo, dedicou-se à advocacia e à atividade de parecerista, onde ocupa posição de vanguarda na condução das maiores discussões tributárias do país.

O professor Roque Carrazza na PUC-SP
Thaís Polato/PUC-SP

Tal qual um peripatético, capaz de transformar qualquer espaço em uma sala de aula, o professor Roque chega a quase meio século de magistério em aulas de graduação e pós-graduação. São raros os advogados, juízes, promotores ou qualquer operador do Direito que não aprenderam em suas aulas e livros. É nas classes, bancas e arguições que o professor lapida as mentes, provoca os espíritos e semeia na juventude a faculdade do pensamento crítico e da imaginação que trarão as ideias do amanhã. Exerce, na plenitude, seu papel de chefe de escola. Nos corredores da PUC-SP, sua oratória rendeu a máxima: “O professor Roque fala como escreve”.

Entre um conceito e outro de Direito Tributário, o professor entremeia casos e “causos”, que dão cor e calor a um Direito às vezes frio. Algumas lições não são tão fáceis de digerir. Às vésperas da minha primeira sustentação oral em um tribunal, tinha os nervos à flor da pele quando lhe pedi um conselho, e ele disse: “Thiago, sustentação oral é simples. Ou você sairá de lá consagrado, ou humilhado”. Na ocasião saí humilhado, mas esperançoso pelo dia da consagração.

A importância da honraria recebida não se encerra na homenagem ao laureado. O Emérito é um luminar, é modelo a iluminar o caminho da presente e das futuras gerações. É aquele que pelo tamanho das pegadas mostra que a grandeza, mais que um ideal utópico, é atingível por cada um. E na medida em que brilha, eleva com ele a todos.

O professor Roque trilhou o caminho do herói, com seus desafios e sombras, e retornou. Pelo esforço e abnegação, venceu. Libertou-se da caverna, enxergou a luz, e voltou para buscar os acorrentados. Como exemplo vivo do mito de Campbell, chegou ao fim da jornada, cujo objetivo nunca foi seu próprio engrandecimento, mas a conquista da sabedoria e do poder para colocá-los a serviço. Aí reside a diferença entre a celebridade e o herói. A primeira vive para si. O segundo, para redimir a sociedade.

Em seu discurso cerimonial, demonstrou novamente porque é nosso orador maior, merecendo nota seu conceito do verbo VENCER: “Vencer não é amealhar fortuna. Vencer é viver com honra, é melhorar o mundo e os homens, é ter a certeza íntima do dever cumprido, é melhorar a vida das pessoas. Vencer, para o profissional do Direito, é estancar o sofrimento moral da vítima, é reparar a injustiça, é apagar a mágoa do oprimido, é dar a cada um o que é seu, mesmo que a caminhada seja longa, a fadiga imensa, a retribuição mesquinha. (…) Aqui, na PUC, aprendi que se deve aproveitar a enorme e maravilhosa oportunidade de fazer o bem às pessoas”.

E como é largo e iluminado o caminho deixado por ele, um homem que buscou a verdade por toda sua vida. Somos felizes em poder aprender com ele por todos esses anos.

Nesse momento histórico carente de modelos, o professor Roque é um herói que se apresenta.

Publicado no no Conjur

Felipe Argos